5 de novembro de 2012

O quase lançamento da revista da turma da Mônica em 1969 - final

Capa do livro de Gonçalo Junior
Finalmente consegui juntar as peças sobre o lançamento frustrado da revista da turma da Mônica em 1969, pouco menos de uma ano antes da Editora Abril lançar a revista Mônica, que virou um retumbante sucesso.
Depois de levantar e sondar o assunto em dois posts ( links abaixo), finalmente juntei as pontas com a leitura do último lançamento do incansável Gonçalo Junior, "A Morte do Grilo - A História da Editora A&C  e do gibi proibido pela ditadura militar em 1973". Como em todos os seus livros, este também surgiu de suas incontáveis pesquisas e entrevistas. Na verdade um levantamento leva a outro e nessas amarras, Gonçalo já lançou vários livros, todos gerados depois de longos anos de buscas e depoimentos. Esse último não fugiu à regra e originou-se de uma matéria sua feita para o caderno de fim de semana da Gazeta Mercantil em 1998. Mais uma vez, um precioso documento sobre a ditadura militar, em um capítulo até então inédito na mídia: a censura e a morte de uma revista em quadrinhos, que durante sua curta existência, afrontou e enfrentou os censores com inteligência e coragem. A turma que idealizou a Grilo era a mesma que se unira na mítica redação da Realidade e desde então vinha lançando projetos cada vez mais vanguardistas e desafiadores ( Bondinho, Revista de Fotografia, Jornalivro, FotoChoq). A mesma turma também que tentou lançar no final dos anos 60 revista com Samuel Wainer e três projetos editoriais com os irmãos Rossolillo, entre eles uma revista em quadrinhos da turma da Mônica. Esse novo capítulo fecha o cerco ao assunto e prova que o lançamento frustou-se por causa da política mesmo. Seguem os trechos:
"No primeiro semestre de 1969, depois de algumas tentativas, o grupo "Realidade" foi finalmente contratado pelos irmãos Rossolillo, proprietários da Editora Gráfica Rossolillo Ltda., que funcionava na Rua Fidêncio Ramos, 302, na Vila Olímpia, então um lugar muito distante do centro da cidade e ainda longe da importante área empresarial que viria a se tornar. Na prática, a empresa da dupla de irmãos era muito mais uma prestadora de serviços gráficos que editora. Publicava, então, duas inexpressivas revistas - uma policial e outra de fotonovela - e os donos diziam querer concorrer seriamente no mercado editorial, como recordou Sérgio de Souza. Da parceria, inicialmente, nasceu a União Brasileira de Editoras Ltda. (UBE), com sede no mesmo endereço da Rossolillo e não oficializada na Junta Comercial de São Paulo." "...Sérgio, Narciso e Barreto propuseram aos Rossolillo três revistas em quadrinhos para marcar o início da associação: "O Careca", um anti-super-herói brasileiro, criado por Alain Voss; e a dupla "Cebolinha" e "Revista da Mônica", de Maurício de Sousa. Ambos eram velhos conhecidos do trio. Maurício, dos tempos da "Folha de S.Paulo"; Voss, do departamento de arte de "Realidade". Os primeiros oito mil exemplares do número de estreia de "O Careca" estavam impresso - de uma tiragem total prevista de 50 mil - e os fotolitos de "Cebolinha" e "Turma da Mônica" prontos, quando os donos da editora surpreenderam os dois artistas e sócios e anunciaram que haviam decidido desistir da empreitada. Alegaram que não tinham recursos para tocar a parceria. A história não ficou muito clara. A gráfica e editora tinha sim estrutura para ao menos imprimir as duas revistas, mas os donos teriam sido alertados por agentes do DOI-Codi de que poderiam ter sérios problemas com o Governo porque estavam se metendo com um bando de comunistas. Assim, resolveram cair fora do negócio" "As duas revistas em quadrinhos sairiam com a data de julho de 1969. "Parece que nossos dois sócios perderam uma grande oportunidade, não? Em especial, se estivessem pensando em ganhar dinheiro", recordou Sérgio, ao se referir aos Rossolillo. Ele não teve mais notícias dos irmãos, mas acreditava "que tivessem ido às lágrimas anos depois, principalmente por causa de Maurício de Sousa", que em maio do ano seguinte fechou contrato com a Abril e iniciou a mais bem sucedida carreira de um artista brasileiro de quadrinhos de todos os tempos. (trechos do livro "A Morte do Grilo - A História da Editora A&C  e do gibi proibido pela ditadura militar em 1973", Editora Peixe Grande - 2012).
Graças ao inesgotável Gonçalo Junior, portanto, encerra-se essa série com todos os devidos pingos nos is. A verdade é que enquanto eu estava buscando ingredientes para um possível café da manhã, Gonçalo já estava com almoço e jantar prontos. Melhor assim - eu só tenho que agradecê-lo.
(seguem os links anteriores do blog. O último traz o passo seguinte dessa turma, logo após a morte do Grilo)
http://almanaquedomalu.blogspot.com.br/2011/06/o-misterio-da-ube-e-o-quase-lancamento.html
http://almanaquedomalu.blogspot.com.br/2012/06/revista-da-monica-que-nunca-foi-lancada.html
http://almanaquedomalu.blogspot.com.br/2010/10/o-acervosorve-3-edicoes-fac-similares.html

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