11 de junho de 2012

A revista da Mônica que nunca foi lançada - parte 2

Sergio de Souza. Declaração do editor joga mais luz ao "não lançamento" de Mônica em 1969.
No ano passado levantei um assunto misterioso e periclitante: o lançamento da Mônica em revista em 1969, ou seja, um ano antes do seu lançamento pela Editora Abril em 1970, pontapé fundamental de Mauricio de Sousa para seu império editorial atual (veja aqui: http://almanaquedomalu.blogspot.com.br/2011/06/o-misterio-da-ube-e-o-quase-lancamento.html ). Na época eu 'pesquei' o assunto no blog do Roberto Guedes, ao pesquisar sobre o Alain Voss, e também de um breve comentário sobre o fato retirado de um depoimento do próprio Mauricio à revista Mundo dos Super Heróis, mas detalhes precisos, neca de pitibiriba. Naquele post eu prometi que assim que surgissem mais indícios, faria um complemento. E um ano depois, sem querer (é sempre assim), acabei esbarrando no mesmo assunto quando pesquisava sobre a imprensa alternativa nos anos de chumbo. A fonte consultada foi o completo livro do Bernardo Kucinski, "Jornalistas e Revolucionários- Nos Tempos da Imprensa Alternativa"(Editora Scritta -1991 -capa abaixo), uma obra de cabeceira pra mim e que esmiuça com precisão e muita pesquisa a trajetória da imprensa alternativa (ou "nanica", como dizem) desde o Golpe de 64 ( com o pioneiro Pif Paf de Millôr) até os jornais sindicais do início dos anos 80.
Kucinski, ele próprio um jornalista que passou por vários veículos à margem da grande imprensa, é meticuloso e traz não só bastidores como vários perfis dos articulistas e protagonistas desse jornalismo marginal que acabou mudando a linguagem da própria 'big press'. No capítulo que identifica com detalhes a 'turma' do Sergio de Souza (ex-editor de Caros Amigos e dezenas de outras publicações, falecido em 2008), a mesma que revolucionou o jeito de se fazer reportagem em revista ( Realidade) e inovou em distribuição ( Bondinho), eu parei no seguinte trecho:
"...Mas "ninguém queria contratar o grupo como um todo, tinham medo, até que Samuel Wainer chamou-os para produzir IDÉIA NOVA, um grande tablóide dominical de informação; Wainer alugou um andar de hotel na boca do lixo, em São Paulo, para fazer o projeto em segredo, mas quando estava quase pronto, veio o famigerado AI-5, ele pagou  e premiou todo o mundo e sumiu". Em seguida, a equipe revisteira propôs à editora dos irmãos Rossolitto, donos de gráfica e de uma revista grosseira de polícia, o lançamento de três revistas: "uma revista de histórias em quadrinhos do Alan Voss, que ficou bastante conhecida; a revista da Mônica, com o Maurício de Souza (sic); e uma revista feminista, CARA METADE, que se proporia a mostrar como as mulheres vêem os homens; estava o time todo, estavam prontos os fotolitos do Mauricio de Souza (sic) e os da história em quadrinhos, e os homens disseram que não tinham mais capital para bancar os projetos...".
Esse trecho do livro foi baseado em depoimento do próprio Sergio de Souza dado ao autor em 1990. Uma nova e mais clara luz sobre o caso, que nos traz novos nomes. Se no post anterior tínhamos UBE, agora temos também os irmãos Rossolito, nomes por trás da editora. A revista de Voss "que ficou bem conhecida" é o "Careca", também citada anteriormente; e com essa nova declaração, feita por um protagonista, entende-se que os projetos não foram pra frente por receio político mesmo, medo até, rebatizado de "falta de capital" (afinal, estava tudo pronto para lançamento). Se não houve prisões, como Maurício supõe, com certeza rolou uma dispersão do grupo, que logo, sob o novo nome de  A&C (Arte & Comunicações), lançaria O Bondinho, um projeto tímido inicialmente, distribuido só no interior do Pão de Açúcar e que logo se transformaria num dos veículos mais surpreendentes e anárquicos da imprensa tupiniquim. Mas essa é uma outra história...

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