30 de junho de 2010

O rarefeito Paulo Vanzolini circulando nas bancas

A Folha continua com sua coleção de discos em banca, Raízes da Música Popular Brasileira, e o homenageado da semana é o raro e único Dr. Paulo Vanzolini, zoólogo de profissão, sambista de intuição. Raro sempre - pelo seu próprio jeito esquivo, sempre passando ao largo dos holofotes - compôs poucas músicas, e as que viveram pra contar história, viraram standards, clássicos, jóias do nosso cancioneiro e do chamado samba paulista. No disquinho estão duas que chegaram ao grande público, Ronda e Volta por Cima, em interpretações definitivas de Márcia e Mauricy Moura, respectivamente. Grande parte das canções selecionadas para a coleção saiu no antológico disco Onze Sambas e Uma Capoeira, lançado por Marcus Pereira, ainda em fins dos anos 60, pelo selo Jogral. Jogral, pra quem não sabe, foi um pequeno grande reduto da melhor música do período (bons tempos de festivais e espetáculos em botecos) onde Marcus Pereira e o próprio Vanzolini frequentavam assiduamente e mantinham uma cota mínima na sociedade. Luis Carlos Paraná, ex-lavrador, compositor e intérprete participante de festivais, abriu o bar em meados dos anos 60, já com o intuito de abarcar a MPB que despontava desses inflamados concursos engendrados pelas emissoras de TV. O Jogral fez um sucesso enorme e corroborou para que Marcus Pereira se empolgasse e resolvesse homeagear um dos mais ilustres frequentadores da casa, o Dr. Paulo, que com o seu humor sempre afiadíssimo, rapidez de raciocínio e verve de cronista, já era considerado um gênio da raça. Pro disco foi um pulo. O selo saiu como Jogral mesmo, distribuido como brinde de fim de ano pela agência de publicidade Marcus Pereira em tiragem limitada. Para a homenagem, vários amigos e comparsas da boêmia - Adauto Santos, Cristina Buarque, o próprio Paraná - tocaram e cantaram canções que já conheciam, saídas de uma boca com cachimbo entre mesas apertadas e privilegiadas.Conto tudo isso, porque de lá pra cá, Paulo Vanzolini continuou saindo em tiragem limitada, mesmo com sua ilimitada genialidade. O disco de estréia foi reeeditado umas três vezes nos anos 70, sempre pelo selo Marcus Pereira ( a gravadora que sucedeu o selo Jogral e manteve a aura do bar e de LC Paraná, morto precocemente em 1970) além de outros lançamentos esporádicos até a caixa definitiva de 4 CDs lançada em 2003 com todas as suas 60 composições. Agora, depois de séculos, Paulo Vanzolini retorna em disco e desta vez é para os mortais. Entre apitos e vuvuzelas, dou vazão ao velho boêmio e comemoro.Golaço.

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