18 de setembro de 2009

Abrindo o baú do Seu João

A primeira pessoa no mundo que me abriu a porta para o colecionismo foi Seu João Massolini, meu pai. Desde que me conheço por gente, lembro dele chegando do serviço com algum novo fascículo editado pela Editora Abril. Entre os anos 60 e 70, a editora de Victor Civita inovou o mercado editorial brasileiro, ao lançar diversas obras "em partes", que saíam semanalmente nas bancas para no final serem encadernadas. Um sucesso estrondoso que começou com "A Bíblia" e se estendeu para todos os assuntos e gêneros: música, artes, ciências, história, geografia, culinária.
Meu pai, que já cultivava o hábito da leitura desde pequerrucho, não só entrou nessa longa caminhada dos fascículos semanais e publicações em banca, como os tem guardado até hoje. Entre os anos 60 e final dos 80, ele abasteceu meu lar com enciclopédias ( Conhecer, Enciclopédia Disney), fascículos ( entre tantos destaco "História da Musica Popular Brasileira" e "Clássicos da Música Universal", que vinham com discos), coleções ( Superinteressante desde o número 1, revista Planeta), fichários e livros ( Círculo do Livro).
A partir de hoje, inicio no blog mais uma série ( esse blog tá virando seriado), o "Baú do Seu João", onde tentarei mostrar-lhes um pedaço desse gigantesco mundo editorial que se esconde nos armários mágicos da Rua Alegre, São Caetano do Sul, lar que me viu nascer e que além de amor e educação, me deu a chave do conhecimento e o gene memorialístico.
Como complemento, incluo aqui um trecho do livro de memórias "A Gente Era Feliz e Sabia", ainda inédito, que traz mais luz a essa faceta inexorável de meu pai:

"Os gibis! Até hoje, compro quadrinhos, embora bem mais comedido (agora tenho duas boquinhas a mais pra sustentar), e desde os cinco anos, quando aprendi a ler, já pedia pra minha mãe o Cebolinha de todo mês. Tenho um armário no meu quarto com milhares de gibis ( já perdi a conta faz tempo) e o meu filho Gabriel vive fuçando nele, com o mesmo brilho nos olhos que eu tinha.
Meu pai, João Massolini ( e Seu João para muitos leitores deste livro), sempre foi um guardador contumaz de coisas, objetos e fascículos. E não é que ele guarda até hoje os "Pato Donald" dos anos 50, os mesmos que lia quando jovem? Segundo ele, o que sobrou foi até pouco: esses "Pato Donald" da Abril, uma coleção razoável de "Edições Maravilhosas" da Ebal ( com grandes romances da literatura em quadrinhos), um punhado de "Fantasma" da RGE ( a editora de Roberto Marinho - e onde ele virou milionário a partir dos gibis) e só. Muitas outras, como Gibi Mensal, Biriba, Mirim, Globo Juvenil, todos da década de quarenta e cinquenta, ele perdeu quando teve que deixar pra trás suas revistas, quando casou, e a sua irmã mais nova deu todas para o garrafeiro.
Meu pai sempre trazia revista pra mim quando voltava do trabalho. Mad, Recreio, Mickey, Gibi (relançado em formato gigante em 1975) e tantos outros.
Através dele ( que gosta mesmo é de música clássica) também conheci Chico Buarque de Holanda, Noel Rosa, Tom Jobim, Cartola e muitos outros da velha guarda, tudo ali, nos discos da sua coleção 'História da Música Popular Brasileira" da Editora Abril, cada LP em um fascículo recheado de histórias e fotos. Pai também é cultura.

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